15 de mai. de 2009

Relações Públicas e Direito: por uma sociedade mais participativa

Sempre vi de forma muito promissora a ligação entre os profissionais do Direito e das Relações Publicas, mas confesso que no início era mais uma simpatia instintiva que conceitual. Só depois que passei a integrar, como membro consultora, uma comissão dentro do mais importante órgão da classe dos advogados, a OAB, no início de 2007, é que realmente mergulhei nas minúcias e labirintos dessa relação tão promissora.

Chamou-me a atenção a característica multidisciplinar e dialogal desta comissão, colocando em xeque eminente a imagem de inflexível tradicionalismo que o senso comum normalmente faz dos advogados. Assim como eu, profissionais de outras áreas do conhecimento, como administração, engenharia, sociologia, tecnologia da informação e outras mais, participam deste grupo. E, assim que cheguei, passei inevitavelmente a formular algumas questões a mim mesma: o que estes profissionais do Direito esperam de nós, dessa mistura de linhas de estudo e atuação? Como podemos interagir e o que somos capazes de produzir juntos?

Não foi difícil encontrar as primeiras respostas associadas diretamente ao próprio nome da comissão: “Comissão de Direito na Sociedade da Informação”. A partir daí o leitor há de concordar comigo que fica relativamente fácil prever que ao reproduzir “sociedade” a diversidade é uma premissa e que “informação” é a base essencial dos comunicadores e, por conseqüência, de nós relações públicas.

Ultrapassando a fase das obviedades passei a perceber aquela formação como uma oportunidade legítima de aproximar duas áreas que, de fato, jamais estão realmente desconectadas.

Então vejamos: por concepção, o Direito é a ciência que normatiza as relações sociais. Relações Públicas, por sua vez, é a área das ciências sociais aplicadas que se dedica a harmonizar os relacionamentos – sejam eles entre grupos (organizados ou não), seja entre esses grupos e as empresas, seja entre governo e sociedade.

Focando nas duas áreas-tema deste artigo, uma precisa entender as demandas sociais para estabelecer normas justas de convivência e igualdade de oportunidades. A outra atua justamente na compreensão das demandas por informação e comunicação para proporcionar um equilíbrio ideal nos relacionamentos, gerando mudanças de atitude e colaboração mútua.

A partir daí, comecei a ver com muito mais clareza a contribuição real que as Relações Públicas poderiam proporcionar não só àquele grupo, mas ao Direito de forma mais ampla. Temos know-how em pesquisa de opinião para investigar e compreender as expectativas da sociedade, da opinião pública, sobre as atividades dos profissionais que determinam as regras do jogo, as leis que regerão no dia-a-dia o que o cidadão pode ou não pode fazer, onde termina o direito de um e começa o do outro.

Também temos expertise em adequação de discurso e assim podemos ajudar na “tradução” dessas expectativas para termos mais claros ao olhar jurídico. Da mesma forma podemos ajudar a população a compreender a essência das decisões jurídicas, das determinações legais que impactam diretamente na vida cotidiana. Podemos ajudar, por exemplo, o consumidor menos afeito ao “jurisdiquês” a entender como, na prática e em um exemplo bem corriqueiro, ele pode fazer valer seus direitos quando se sente prejudicado na aquisição de um produto ou contratação de um serviço e, desta forma, prestar um valioso serviço à população proporcionando sua efetiva participação no processo de edificação das leis.

Ao melhor estilo Porto Simões e sua visão precisa da função política de Relações Públicas, a aproximação com o Direito permite a nós, profissionais de Relações Públicas, exercitar essa mediação-cidadã entre esta instituição centenária e seus públicos estratégicos: população, governo, imprensa e, por quê não, clientes. Isto porque os clientes dos escritórios de advogados também são favorecidos quando há um trabalho sistemático de relacionamento, com a correta comunicação de suas ações e serviços.

O advogado é uma fonte indispensável de informação e análise sobre os aspectos legais que atingem a todos nós no dia-a-dia, bem como para entendermos o atual contexto social e suas tendências à luz da legislação, em todas as suas instâncias e procedimentos. E as relações públicas podem aproximar tudo isso da realidade do cidadão, integrando-o a este círculo virtuoso.

Assim, cumprimos um importante papel na Sociedade da Informação, sociabilizando a informação jurídica e promovendo o conhecimento cidadão e inclusivo



Por: Elaine Lina de Oliveira - Presidente do Conrerp 2ª Região.

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